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Estou cursando o terceiro semestre do curso de pedagogia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Educação e Novas Tecnologias:

A PEDAGOGIA INACIANA NUM NOVO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM
Andrea Cecilia Ramal
Pesquisadora do Centro Pedagógico Pedro Arrupe, Brasil (PBCL)
Referência:
RAMAL, Andrea Cecilia. “Educação e Novas Tecnologias: A Pedagogia Inaciana num
novo ambiente de aprendizagem”. In OSOWSKI, Cecilia (org.) Provocações da Sala de
Aula. São Paulo: Loyola, 1999.
A introdução da informática na sala de aula é um dos casos em que, em vez da
escola moldar o mundo, o mundo vai moldar a escola: o computador já é parte da
sociedade pós-moderna e tanto melhor será uma escola quanto melhor preparar o aluno
para esse contexto.
Isso não quer dizer que o professor se coloque numa atitude de passiva recepção
das tecnologias. É necessário abrir um diálogo entre a Pedagogia e a Informática - com
incursões na Psicologia, na Sociologia, na Semiologia, na Filosofia - para que possamos
descobrir o que deve mudar na realidade educacional e como essas inovações afetam as
relações educativas e sociais.
Há uma nova ética surgindo no sistema comunicacional. Há um novo modo de se
ver e de se veicular a informação. A palavra escrita vem sendo utilizada de modo muito
diferente do que foi até poucos anos, e vai passando do papel às redes; tempo e espaço
são noções que se tornam cada vez mais relativas e sabemos que, historicamente,
quando a ciência passa a rever essas duas categorias, grandes mudanças estão por
ocorrer. Mudam os paradigmas, caem as barreiras que separam o presente e o futuro, o
distante e o próximo, o erudito e o popular. Tudo isso tem incidência direta num espaço: a
escola, lugar em que justamente estão se preparando os sujeitos desse futuro no qual o
social e o tecnológico serão inseparáveis.
-2-
Algumas provocações surgem daí para a Pedagogia Inaciana: Que implicações e
desdobramentos veremos nas salas dos colégios jesuítas a partir do novo milênio? Como
o professor pode incorporar o computador e as possibilidades da Internet às suas aulas?
Que política educacional pode garantir a ampliação dessas opções para as classes
menos favorecidas, por exemplo em nossos cursos noturnos, de modo a impedir o
aumento da exclusão social das massas? O que muda no currículo das escolas jesuítas e
na maneira de trabalhá-lo, uma vez que a navegação no ciberespaço amplia infinitamente
as possibilidades de acesso ao conhecimento? E o professor: o que muda em seu papel
e em sua formação para ser um profissional dessa nova escola?
Essas provocações vêm de dentro da própria sala de aula e desafiam toda a
comunidade escolar a participar da construção de um novo ambiente de aprendizagem no
qual as tecnologias sejam assimiladas como mais um recurso para alcançar os fins que a
Pedagogia Inaciana se propõe.
1a. parte: Internet e Educação
Quando uma escola se conecta à Internet, um novo mundo de possibilidades se
abre diante de alunos e professores. Não mais falamos, a partir daí, de alguns
instrumentos didáticos como um livro ou uma enciclopédia; falamos de uma infinidade de
livros e de sites que o aluno pode visitar; de uma nova realidade de conceitos,
representações e imagens com as quais o aluno passa a lidar e que vão ajudar a
desenvolver outras habilidades, capacidades, comportamentos e até processos
cognitivos que a escola tradicional não previa e que o mundo pós-moderno já exige dele.
Além disso, os conteúdos que chegam pela Internet se tornam mais interessantes e
atraentes do que quando apresentados em livros ou apostilas, material já tão conhecido
pelos alunos; aprender pode se tornar algo divertido, realístico e mais significativo.
Pensemos, por exemplo, numa aula de literatura em que o aluno visite a homepage
de seu escritor preferido e escolha, ele mesmo, as poesias que lerá; outros poderão
-3-
preferir visitar uma biblioteca e escolher romances de qualquer período literário1. Na aula
de História, todos navegam por sites que propõem a reconstrução de ambientes da
época estudada; nas atividades de criação, além das conhecidas redações, pode-se
variar com a elaboração de hipertextos em conjunto que reúnam narração, imagem e som;
em Ciências, ver as mais recentes pesquisas da ciência hoje2; e assim por diante.
Considerando que, no mundo futuro, o indivíduo precisará, mais do que saber
coisas, saber aprender, dominar os processos pelos quais vier a se aproximar do
conhecimento e da informação - pois viveremos num mundo em que será necessário
acessar a uma multiplicidade de informações, e aprender permanentemente será
fundamental -, a primeira das várias possibilidades que a tecnologia oferece à escola se
relaciona justamente ao desenvolvimento do gosto pela pesquisa e pelo saber.
Daí podermos afirmar que, contrariamente ao que se pensava outrora, a máquina
representa uma excelente ferramenta para se atingirem muitos dos objetivos da educação
humanista - alguns deles expressos nas Características da Educação da Companhia de
Jesus (CESJ) 3. A educação jesuíta se propõe “inculcar uma alegria de aprender e um
desejo de aprender”, para infundir nos alunos “a capacidade e a ânsia de continuarem se
formando”. “Aprender é importante”, afirma o texto, “mas muito mais importante é
aprender a aprender e desejar continuar aprendendo”4. Considerando essa proposta, a
Internet na sala de aula se torna um meio de levar o aluno a lidar com novas informações
(porque assim também é e será a sua vida), permitindo-lhe participar das escolhas sobre
o quê e quando aprender.
É claro que esse tipo de atividade cognitiva ganha, na educação inaciana, uma dimensão
mais ampla do que o contato puro com a informação. A educação da Companhia “está
1 - Por exemplo, na Virtual Bookstore, à qual se chega através de
http://www.elogica.com.br/virtualstore, e que oferece um site especialmente dedicado à literatura
brasileira (no atalho lbrasil.shtml ); ou consultando outras bibliotecas virtuais por meio do índice geral
http://www.mat.unb.br/~moreira/bibliotecas.html.
2 - Por exemplo, no site Ciência Hoje (http://www.ciencia.org.br)
3 - Este documento, publicado em 1986, vem inspirando um processo de renovação pedagógica nos
colégios jesuítas. A partir de agora nos referiremos a ele nas notas com a sigla CESJ.
-4-
orientada para valores; inclui a formação de valores, de atitudes e de capacidades para
avaliar critérios”5. Não se trata apenas de desejar e de saber procurar a informação.
Trata-se, principalmente, do aluno saber escolher entre a multiplicidade de informações
disponíveis, fazendo a leitura crítica e criteriosa dos dados, e de ser capaz de utilizar a
informação selecionada de forma adequada e coerente com os critérios éticos que
orientam a sua vida. Isso porque “a formação intelectual completa e profunda inclui uma
capacidade cada vez maior de raciocinar reflexiva, lógica e criticamente”6.
Educação, comunicação e participação social
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) afirma que a
educação abrange os processos formativos que se desenvolvem “na vida familiar,
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”7. As
Características da Educação da Companhia de Jesus compartem esta concepção ampla
de educação, e por isso não apenas estimulam a participação dos diversos segmentos
da comunidade escolar8, como também insistem na existência de uma “comunicação
regular entre professores, administradores e auxiliares, jesuítas e leigos” em nível
“pessoal, profissional e religioso”9. Ao conceber a dinâmica de funcionamento de uma
escola ideal, o texto das CESJ defende que “existe comunicação freqüente e um diálogo
permanente entre a família e o colégio”10. Numa escola jesuíta, lemos no documento,
“procura-se fomentar a participação estudantil na comunidade escolar maior, através de
grupos consultivos e outras comissões escolares”, e “os antigos alunos são membros da
4 - CESJ, 46.
5 - CESJ, 51.
6 - CESJ, 26.
7 - LDB, art.1o.
8 - CESJ, 117 e 120.
9 - CESJ, 131.
10 - CESJ, 131.
-5-
comunidade (...); entre os centros educativos da Companhia e as Associações de Antigos
Alunos existem laços estreitos de amizade e apoio mútuo”11. Além disso, na filosofia
educacional dos centros jesuítas, o ato de aprender está vinculado à posterior partilha das
descobertas, colocando-as a serviço dos demais12.
Podemos arriscar afirmar que, se o documento das Características tivesse sido
escrito há um ano, e não há mais de dez, já falaria da Internet como um recurso para
essas formas de colaboração, tamanha a ênfase que dá à dinâmica de comunicação
interna e externa entre os membros da comunidade escolar. Com efeito, hoje as conexões
através de redes já são um veículo para o intercâmbio dos colégios jesuítas de todo o
mundo. Apenas para exemplificar, podemos citar o caso da realidade que melhor
conhecemos, a da Província do Brasil Centro-Leste. Temos colégios que funcionam com
sistema de rede interna, e o diálogo entre as direções escolares e a Associação dos
Colégios Jesuítas (ACOJE) via Internet é permanente. A comunicação entre os antigos
alunos do Colégio Santo Inácio do Rio de Janeiro recebeu especial impulso a partir da
hospedagem da homepage na WWW, criada pelo Prof. Vicente Paim, “âncora” do núcleo;
e o site - que em menos de um ano de funcionamento já foi visitado por mais de 237 mil
pessoas - disponibiliza informações sobre a Companhia de Jesus, a vida de Inácio de
Loyola, a história do colégio e sobre o próprio núcleo de antigos alunos, permitindo ainda
o diálogo entre os mesmos, o que tem funcionado para aproximar pessoas de todas as
idades 13.
A Internet é um excelente instrumento para viabilizar um conceito amplo de
educação, associando os conteúdos da escola com a realidade extra-muros. Algumas
escolas brasileiras já conseguiram desenvolver projetos bastante ousados nesse sentido.
Por exemplo, em parceria com empresas provedoras de softwares, foram desenvolvidas
em 1996 as “Aventuras Educacionais Brasileiras”. Nessas aventuras, alunos de diversas
escolas partiram para uma expedição na Amazônia e na Chapada Diamantina levando na
11 - CESJ, 135.
12 - Cf. a proposta de ensino personalizado e comunitário dos escritos do padre jesuíta Pierre Faure, as
indicações de procedimentos metodológicos encontradas no documento Pedagogia Inaciana - uma
proposta prática, e o livro de Klein (1997).
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mala, além de jeans e camisetas, notebooks, celulares, scanner, placa digitalizadora de
som e imagem, máquina fotográfica digital e todo um arsenal tecnológico para transmitir
ao mundo, via Internet, as informações e fotos que colhiam no local. Esses dados foram
enviados para a homepage do projeto, onde houve troca com outros alunos e com quem
mais se interessasse pelo projeto. Durante essas aventuras, também foram realizadas
videoconferências e listas de discussões. O projeto se manteve no ar depois da aventura,
tendo milhares de acessos14.
O CD-rom também é um material didático de grandes recursos. A equipe de
Informática Educativa do Colégio Santo Inácio do Rio de Janeiro elaborou um projeto que
aliou a confecção de um vídeo e a produção de um CD-rom sobre o Padre José de
Anchieta, por ocasião da celebração do 4o. centenário de seu falecimento. O trabalho
incluiu viagens às regiões em que Pe. Anchieta viveu e entrevistas com sacerdotes
jesuítas. O mais interessante foi o processo realizado, mas os produtos também devem
ser destacados: um vídeo muito interessante intitulado “Aventura Anchieta” e o CD-rom
“Anchieta, o santo da casa”, que reúne imagens, hipertextos e som15.
Na linha de uma comunicação que inclui a expressão da própria cidadania e a
atuação social dos alunos (dimensão essencial da pedagogia inaciana), existem
experiências interessantes que articulam trabalho de sala de aula e Internet. Um exemplo
é o projeto “Ética e Indignação”, desenvolvido na disciplina Ensino Religioso pelo Prof.
Ceciélio Dias Côrtes (1998), em colaboração com o Centro

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